12/15/2015
RECORDAÇÕES DE D.CARLOS DA COSTA ROQUE
Era magro e franzino. Trajava com vulgaridade, com roupas simples e coçadas, não abdicando da velhinha boina de pala.
Entrava no Café da nossa Cidade, todos os dias. (Parece que estou a vê-lo, caminhando com dificuldade, junto ao Convento do Cardal, encostado à velha bengala que foi forçado a usar, depois das múltiplas agressões de que foi vítima, por radicais esquerdistas.) Quando ele passava e onde ele entrava, tudo ficava " impregnado de cultura."!
O que mais caracterizava a sua personalidade, ou melhor, o seu (carisma), era a venda preta que lhe tapava uma das vistas, resultado visível das agressões barbaras de que foi vítima e fazia lembrar por semelhança física, o grande poeta Luís Vaz de Camões.
Don Carlos, assim era a sua alcunha, que perdurará pelos tempos, assim eu acredito, porque os grandes homens nunca morrem. Amado por muitos, odiado por outros, acabou por morrer quase à mingua, habitando num espaço exíguo num Bairro Social da nossa Cidade, rodeado de enciclopédias e rimas de livros de grande valor literário. Don Carlos enquanto viveu, era amigo do seu amigo e meu amigo também! Recordo hoje com saudade, as muitas horas de frutuosas conversas, cujos conteúdos eram riquíssimos. Ele era economicamente muito pobre, mas dotado de uma riqueza intrínseca a outros níveis, salientando a parte cultural que era de uma riqueza incalculável. Poliglota, falava e escrevia fluentemente inglês, francês, alemão, russo e chinês, (mandarim). Tinha formação em jornalismo, tendo sido correspondente da BBC em Londres, fez muitas coberturas jornalísticas na 2ª guerra Mundial em diversos países abrangidos pelo conflito de então.
Don Carlos, foi ainda Secretário na Embaixada de Portugal em Londres, Inglaterra, no Governo de António Oliveira Salazar.
Em muitas coisas os nossos gostos eram parecidos, os nossos pensamentos eram quase iguais, apenas nos distanciávamos nas questões políticas, ou seja nas convicções. Don Carlos tinha um forte sentido crítico, era grande admirador dos meus escritos, nomeadamente das minhas Obras em poesia. A nossa maior incompatibilidade residia no facto dele ser um grande saudosista de Salazar, a quem serviu com todo o zelo e lealdade. Fora isso, recordar-me-ei para sempre, da sua postura de homem sério, de fortes convicções e avalizado de grandes valores humanos. Autor de várias obras literárias, ou artigos de opinião e fotografia, editados nos Jornais de Pombal, merecia no meu entender, um reconhecimento póstumo da nossa Autarquia.
Don Carlos, desapareceu de entre nós, porque o seu corpo acabou por claudicar, devido ao desgaste que a vida lhe causou, assim como acontece com todos nós humanos, mas ele ficará para sempre na nossa lembrança, digo na lembrança de muitos e muitos pombalenses.
Ficará para a posteridade, a figura franzina de boina de pala, pala preta sobre um olho, bengala e livros sempre debaixo do braço. Finalizo dizendo; que Don Carlos sucumbiu ao peso dos anos, mas o seu Espírito está e estará sempre vivo na minha memória e de uma grande maioria dos pombalenses. Tenho dito!
MÁRIO DE OLIVEIRA
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