12/18/2015




                                             DOIS HOMENS QUE UMA ESTÓRIA UNIU



Pelo relato que ouvi do próprio, ou seja na primeira pessoa, esta, é uma estória que ocorreu no verão de 1943, em plena segunda guerra Mundial.
Um jovem português, viajava de Inglaterra para a República Popular da China, mais concretamente da Cidade de Londres, para a Cidade de Xangai. Don Carlos da Costa Roque, assim se chamava o jovem jornalista fotográfico, ainda no começo da sua vida profissional. Costa Roque foi entre muitos o escolhido, para fazer a cobertura jornalística e fotográfica para a BBC de Londres. Viajou de avião até Pequim e depois continuou de comboio até Xangai.
A estória a que me vou reportar, reveste-se de um enorme paradigma e de um potencial imenso de humanismo e de um sentido enorme de Cidadania. Razão pela qual, não resisto a conta-la e a descreve-la tal qual ma descreveu Don Carlos da Costa Roque e passo a citar: Don Carlos no meio de "um mar de gente"na Estação Ferroviária de Pequim, entrou com dificuldade na carruagem nove daquele comboio que o iria levar a Xangai. Aquela carruagem estava a abarrotar. O barulho era ensurdecedor à mistura com os odores corporais, numa mescla de dialectos, de raças e de extractos sociais. Muitos populares, comerciantes, militares, políticos e outros. Prosseguindo, a narração, foi Costa Roque um dos protagonistas principais da referida estória, ao relacionar-se e fazendo mesmo amizade com um "Judeu" um dos passageiros companheiro de viagem de nome Abby, tambem ele viajava na carruagem nove com o mesmo destino, Xangai.
Após algumas horas de conversa, Abby terá prevenido o jovem jornalista português que tivesse muito cuidado com o dinheiro, se o levava consigo, já que naquele comboio, que ele tão bem conhecia de outras viagens, era habitual nele viajarem também muitos carteiristas. Don Carlos ficou algo receoso e  apreensivo, porque o dinheiro que levava consigo na algibeira, não lhe pertencia. Realmente Don Carlos, a determinada altura da viagem, pensando nas palavras de Abby, precaveu-se dos carteiristas, retirando os fósforos de uma enorme caixa, que naquele tempo era muito usada, pondo dentro dela um enorme maço de notas, que na totalidade ascendia a mais de 30.000 libras. Este dinheiro tinha-lhe sido entregue pela BBC, destinado às múltiplas despesas inerentes à sua viagem de trabalho, naquela deslocação que iria ter cerca de um mês de duração.
O calor intenso e a enorme humidade concentrada dentro daquela carruagem, onde as pessoas se acotovelavam umas às outras , deixava qualquer dos passageiros impacientes, nervosos e instáveis, tanto mais que o barulho era ensurdecedor!
Em determinado momento, o jovem jornalista Don Carlos, sacando de um charuto que tanto apreciava, meteu-o nos lábios, com gestos mecanizados próprios dos fumadores e de imediato apalpou os bolsos, pegando na caixa de fósforos, abanou-a e como esta ao ser agitada parecia estar vazia, projectou-a literalmente para fora do comboio, pela enorme janela sem vidros. Ainda caixa com dinheiro ia no ar, quando o jovem jornalista percebeu, já sem remédio, que tinha atirado fora pela janela daquele comboio, uma pequena fortuna. Pior que isso, foi o facto de ter ficado, sem uma única moeda no bolso para comprar um pão. Don Carlos da Costa Roque, encontrava-se agora na situação mais difícil da sua vida. Dentro daquele comboio barulhento, numa terra hostil sem conhecer ninguém, acabava de perder uma elevada quantia em dinheiro que ainda por cima não lhe pertencia!
Porque os homens também choram, Don Carlos chorou copiosamente, chorou agarrado aquela janela, daquele maldito comboio que cada vez se afastava mais, como que fugindo daquela paisagem que agora lhe parecia infernal! A angústia que dele se apoderou foi tanta, que debruçado sobre aquela janela, sabia bem que aqueles soluços, não tinham o poder de parar aquela composição. Os "gritos" lancinantes daquela locomotiva, misturavam-se com os soluços de Don Carlos, que perdera de forma estúpida vários meses do seu salário.
Passadas largas horas Don Carlos e Abby desembarcavam em Xangai. Foi então que o comerciante "Judeu" Sr. Abby se abeirou de Don Carlos e lhe perguntou qual a quantia que ele tinha perdido naquele seu acto irreflectido: Surpreendentemente, o abastado comerciante, Sr. Abby, abrindo a sua maleta, entregou as 30.000 libras ao jovem jornalista Don Carlos da Costa Roque, que nem queria acreditar em tão nobre e inesperada acção e naquilo que os seus olhos estavam agora a ver!
O jovem jornalista, agradeceu sensibilizado ao abastado comerciante "Judeu"que nunca mais encontrou na vida, mas de quem ficou amigo e grato para a vida inteira.
Muitas cartas escreveu a ao Sr. Abby, para a direcção que este lhe dera, mas nunca obteve qualquer resposta. Acabo de relatar na integra uma estória que uniu dois homens. Uma estória maravilhosa que um dia me foi contada pelo próprio Don Carlos, com as lágrimas a rolarem-lhe nas faces. Aqui deixo a estória que prometi reproduzir, um exemplo de vida, de dois homens oriundos de lugares diferentes do Universo, que Deus quis unir naquele dia pelos laços do amor Universal!!
Acabo de escrever uma estória verídica, passada na República Popular da China, entre um comerciante "Judeu"chamado Abby e um jovem português que se chamou Don Carlos da Costa Roque. Don Carlos viveu e leccionou na Cidade de Pombal, homem muito culto e poliglota de quem guardo muitas e boas recordações. Que a sua Alma descanse em Paz!!

                                                                                                      MÁRIO DE OLIVEIRA

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