LIBERDADE PALAVRA SUBLIME
Hoje é dia da Liberdade em Portugal. Apetece-me escrever sobre a Liberdade e a falta dela. Nós em geral, só damos valor ao que não temos, quando já tivemos e deixamos de ter.
Dos anos trinta, aos anos sessenta, foi muito difícil viver em Portugal. Fomos governados nesse tempo, por uma ditadura política em conivência e colaboração estreita da Religião Católica.
Portugal estava na altura a passar por uma crise económica muito grave e emergiu na política o economista Dr. António Oliveira Salazar, que passou a governar o país, assentando a sua filosofia em três vectores importantes que eram; (Família, Religião e Economia.)
Tudo isto se passou, numa fase difícil não só em Portugal, mas em toda a Europa Ocidental. Estava-se em plena segunda guerra Mundial. Salazar, que pôs o povo português a passar fome, limitou a Liberdade individual e colectiva a todos. Baseando a sua governação nos três pilares que acima enunciei, valeu-lhe o convénio com o Cardeal Cerejeira e com a P I D E (Polícia Internacional de Defesa do Estado). Impôs pela força do medo e da fome, uma ditadura política, administrativa e familiar, submetendo todo o povo e circunscrevendo-o tornado-o prisioneiro dentro do nosso país.
A todos foi cerceada a Liberdade de expressão, de associação, de opinião, de reunião e até de pensamento. A famigerada polícia política, aterrorizava toda a população, ao mesmo tempo os agentes religiosos prestavam-lhes informações vitais e as pessoas eram presas em casa a altas horas da noite ou de madrugada. Sem julgamento, as pessoas eram atiradas para as prisões onde eram interrogadas e submetidas a violências terríveis. Tudo era controlado, a imprensa e todos os restantes Órgãos de Comunicação Social.
Um Povo com fome, poucas ideias pode ter. Porém há sempre gente valente, há sempre heróis, como diz o poeta; (Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não!)
Tudo o que Portugal produzia, como sendo: Milho, trigo, feijão, grão e até conservas, tudo ia parar às messes dos Exércitos Aliados e até dos Alemães. O Estado Português, comandado pelo ditador Salazar, conseguia assim milhões de contos em barras de ouro que ia guardando a" sete chaves ".
Mas é tempo de falar-vos da falta de Liberdade, especialmente para aqueles que não sentiram na pele tudo o que eu senti e todos aqueles da minha geração. No passado dia vinte cinco de Abril, comemorou-se em Portugal o dia da Revolução dos cravos do ano de 1974. Assim, devemos lembrar-nos daqueles que muito sofreram para que hoje possamos comemorar em absoluta Liberdade esse dia histórico. Comecemos por recordar com grande respeito os (Capitães de Abril, comandados pelo saudoso Capitão Salgueiro Maia. Este militar valoroso que deixando de cumprir uma ordem absurda, evitou uma tragédia. Aquilo que podia ter sido um autentico banho de sangue! Em lugar dessa tragédia, tivemos uma verdadeira Revolução Cultural. As balas das espingardas foram substituídas por cravos vermelhos, que eternizarão para sempre o dia 25 de Abril.
Comemorar Abril, a Revolução e não falar daqueles que ao longo de muitos anos, lutaram das mais diversas formas para tornar possível o sucesso e a Libertação do Povo Português, seria no mínimo uma grave falta de respeito. A esses lutadores, tudo devemos!
Vinte anos antes em 1954, no dia 19 de Maio, era assassinada; CATARINA EUFÉMIA. Com apenas 26 anos de idade, esta ceifeira Alentejana, regaria com o seu sangue os campos de trigo de Valeisão. Nesse fatídico dia, a jovem Catarina, seria assassinada pelas costas, com três tiros disparados à queima roupa, pelo tenente Carrajola da GNR.
Há muitos mais lutadores da Liberdade que merecem referencia, e outros há que ficarão para sempre no anonimato. Porém devo referenciar alguns, como sendo; Carolina Beatriz Ângelo, Adelaide Cabete, Ana Castro Osório, Maria Carolina, Frederico Crespim, de Maria Vilela e tantas outras. Ainda Álvaro Cunhal, Mário Soares, Zeca Afonso, Vasco Gonçalves, Jaime Neves e muitos outros.
O nosso Povo, deve continuar a manter e a enaltecer a "mística" da Revolução de Abril, procurando cada vez mais a construção da democracia na base do respeito mutuo e sempre com uma visão alargada de cidadania, procurando através do voto, impor condições aqueles que pretendem enfraquecer a nossa luta. O Povo deve sempre continuar unido, para cumprir fielmente e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa.
Mata Mourisca, 25 de Abril de 2016
MÁRIO DE OLIVEIRA
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