OS PASSARINHOS TAMBÉM TÊM FILHOS
São nove horas da manhã, acordei, esfreguei os olhos e olhei em volta, como que procurando algo ou alguém. Porém eu sabia que estava sozinho ! Levantei-me e apeteceu-me ir à janela do meu quarto para contemplar a paisagem maravilhosa em redor. Moro numa pequena Aldeia rural, do Distrito de Leiria, na zona litoral, situada a Oeste, na orla marítima a poucos Kilometros da Figueira da Foz.
Continuei contemplando a paisagem da janela do meu quarto e tudo o que vejo me fascina ! As árvores verdejantes, as roseiras em flor, os passarinhos chilreando. Olhei novamente para o interior do meu quarto e resolvi ligar a televisão. O tema esta manhã é o dia Internacional dos avós. Lembrei-me então que apesar de ser um jovem, sou também avô de quatro netos e pai de cinco filhos! Voltei à janela e fiquei extasiado pelo comportamento dos passarinhos que pareciam conversar entre eles. Pensei; como é perfeita a Natureza !! Eles lá vão voando de árvore em árvore, de ramo em ramo, parecendo confidenciarem algo de muito importante. ( Será que estão perguntando uns aos outros pelos seus entes queridos? Sim, porque eles os passarinhos também têm filhos e netos! Saberão eles onde estão os seus filhos e os seus netos? Seja como for, eles parecem felizes e contentes. De ramo em ramo, lá vão depenicando as ameixas maduras da ameixoeira junto ao poço.
Fui despertado novamente para o que se passava no "ecran" da televisão; senti muita ternura ao ver uma velhinha avó de cara enrugada, rodeada de netos e bisnetos. Aquela velha senhora estava ali para simbolizar o valor de ser avó e bisavó. Apeteceu-me perguntar aos passarinhos se eles sabem onde se encontram os seus filhos e os seus netos e os seus avós ! Naquele instante fiquei fascinado com o seguinte acontecimento; ( Um passarinho muito belo voou em direcção à janela do meu quarto .) Que se passa ? Perguntei eu.!! A ave ficou ali poisada a cerca de um metro de mim sobre a armação do projector que ilumina o espaço do condomínio. Estabeleceu-se assim uma Energia comunicativa entre a minha pessoa, o passarinho visitante, a velhinha da televisão e as crianças que a rodeavam que seriam umas quinze. Aquele passarinho olhava para mim com uma tranquilidade tão grande, que senti a impressão que a pequena ave me queria transmitir algo de importante.
A tranquilidade da ave, assemelhava-se à tranquilidade daquela velha senhora! Aquela velhinha de rosto enrugado, que outrora tinha sido fresco e belo como a fresca rosa ali estava feliz na presença de todas aquelas crianças, frutos daquele que foi o seu amor!
Voltei novamente a minha atenção para as árvores do meu quintal, pois foi para lá que o meu visitante voou tranquilamente. Senti inveja daquelas aves que voavam em " semi -circulos " como querendo marcar o seu território. Eles voavam livremente !! Também eles geraram descendência, terão as suas famílias ; filhos, netos, bisnetos e "trinetos" tal como nós humanos. Foi então que uma lágrima teimosa rolou livremente do meu rosto castigado pelas agruras do tempo! Essa lágrima chamou teimosamente outras que me molharam o rosto como se fosse chuva de verão !!
A minha pergunta é a seguinte; Os familiares daqueles passarinhos por onde andarão? Estas lindas aves são muito belas mas não são minhas. Elas me deslumbram com os seus cantos e as suas penas multicolores. Há apenas algo em comum em nós!! Elas têm as suas penas e eu também tenho as minhas !! São as penas que me fazem chorar, porque os homens também choram !!
Mata Mourisca, 31 de Julho de 2021
O autor
Mário de Oliveira